A LAVA JATO E AS MUDANÇAS NOS TELEJORNAIS
A avalanche diária de fatos (novos, requentados ou mesmo inflados) por conta da crise política se tornou tão massacrante que mudou a cara da maioria dos nossos telejornais de rede.
Dificilmente as primeiras manchetes não tratam das falcatruas e os desdobramentos da Lava Jato. Na sequência vem uma saraivada de matérias de política, com as já cansativas reproduções de trechos gravados de delações, escutas, etc, e as inevitáveis entrevistas com políticos e suas declarações surradas.
No meio disso tudo, se sobressaem os repórteres dos canais 24 horas, como a GloboNews e a Record News. Mas porque?
Programação ininterrupta demanda conteúdo, e o lamaçal que vem escorrendo desde a primeira vez que o japonês da Federal entrou em cena tem dado material de sobra.
Mas é preciso esmiuçar as filigranas jurídicas, artimanhas de investigação, articulações palacianas, escaramuças parlamentares, entrelinhas dos processos e outros meandros deste festival de acusações, ilações e revelações.
Com tempo de programação muito mais generoso e administrável que nas TVs de sinal aberta, os repórteres dos canais de notícias tem sido os mais exigidos. E se tornaram os pilares das abordagens de programas com comentaristas, políticos e especialistas de diversas áreas ligadas ao entrevero que domina o cenário político e institucional brasileiro desde o ano passado.
Este ambiente impôs a estes repórteres a necessidade de pressão incessante sobre suas fontes e o monitoramento permanente dos acontecimentos nos três poderes. Tudo para que suas intervenções tragam na medida do possível o maior número de informações novas ou, melhor ainda, exclusivas.
Para repórteres mais jovens, a experiência nas emissoras “a cabo” tem sido uma oportunidade e tanto para calibrar a capacidade de expressão, articulação,improviso e fôlego entre tantas e longas entradas ao vivo por toda a programação.Tanto que eles tem sido convocados para reforçar eventualmente as coberturas sobre o assunto nos telejornais da rede aberta. E aí dão show, mesmo enquadrados em regras mais duras de exposição.
Nas TVs abertas, mesmo os repórteres de elite estão sujeitos aos limites draconianos do tempo dos VTs e das entradas ao vivo. E por mais experiência que o sujeito tenha, percebe-se (com algumas exceções) a performance tendendo ao formalismo, com poucas concessões à desenvoltura, mesmo que a fala tenha sido sem erros e as informações precisas.
Já nas intervenções dos profissionais da Globo News e Record News, a personalidade e capacidade de "reportar" do repórter aparece mais claramente, estimulada pela maior liberdade de tempo para explanar o assunto com detalhes, utilizando referências mais completas e improvisando na conversa com os apresentadores.
Vejo repórteres muito jovens na GloboNews demonstrando incrível segurança em intermináveis “vivos”, o que é sempre um baita desafio até mesmo para veteranos.
Mas o melhor disso tudo é que os editores dos telejornais abertos parecem estar se dando conta que é preciso abrir mais tempo para essas abordagens, E começamos a ver cada vez mais repórteres destes programas ganhando espaço para intervenções mais alongadas e ao vivo.
Se é verdade que a Lava Jato está ajudando a passar a limpo o país, podemos dizer também que está estimulando uma muito bem vinda mudança nos parâmetros tradicionais do telejornalismo em sinal aberto.