A PASSAGEM - O MOMENTO ESPECIAL DO REPÓRTER
É um dos momentos mais importantes numa matéria de TV. Diante da câmera, o repórter costura as principais informações da matéria e se posiciona no contexto da narrativa.
Mas é fundamental lembrar que ele não é protagonista e muito menos a estrela da matéria. É o narrador da história, a testemunha ocular dos fatos que descreve.
A passagem é um recurso importante para alinhavar e dar mais credibilidade ao texto, mas jamais deve ser pedestal para a vaidade ou pretensão.
Para alguns repórteres, a passagem (há quem diga “boletim”) é uma das partes mais difíceis na execução da matéria. Insegurança e timidez são fatores que atrapalham, especialmente aos novatos.
Mas assim como tantas outras habilidades que a gente aprende a aperfeiçoar na medida em que vai ganhando experiência, com o tempo a passagem deixa de ser uma encrenca para se tornar a marca do repórter na matéria.
Nem todo mundo fica á vontade neste momento. Há muitos repórteres veteranos que se sentem desconfortáveis na hora de gravar sua intervenção em frente à câmera.
Parece algo contraditório para quem trabalha em TV. Mas é importante considerar que antes de mais nada quem está ali é um jornalista, não um ator. Ele tem que contar a história, e não fazer uma performance teatral.
Obviamente, o profissional tem que se adaptar às características do veículo para ter uma boa atuação. E isso depende do jeito de cada um.
Conheci muitos grandes repórteres de TV que são naturalmente tímidos, contidos no jeito de ser, mas que na hora de fazer o seu trabalho dão show. E não precisam bancar o artista na hora da passagem. Apenas se concentram, priorizam a qualidade da informação e dão seu recado com credibilidade.
Confira as regras básicas para uma boa passagem:
1) O TEXTO
. Reserve uma informação quente, que seja realmente a “passagem” ligando aspectos importantes da narrativa;
. Evite passagem apenas para aparecer na matéria, descrevendo obviedades do tipo “...O corpo agora está sendo retirado do hospital e neste momento está sendo levado para o cemitério...” ou “...o caso agora vai ser investigado pela polícia...”
- Use frases curtas e bem costuradas, caprichando na entonação sem exageros. Fale com firmeza e segurança.
- Antes de gravar, decore o texto num lugar um pouco mais afastado, onde possa se concentrar. Fale para você mesmo, baixinho, mas de maneira a escutar sua voz. Isso ajuda a calibrar a entonação necessária e estimular a memorização.
- Escrever a passagem ou não depende de cada um. Mas se preferir anotar não fique tão preso ao texto literal. Sinta-se livre para improvisar um pouco, sem perder o foco.
2) ESCOLHA DO LOCAL:
. Deve ser sempre o mais identificado com o foco da matéria. Confira o ambiente, verifique se há aspectos de segurança a serem considerados e discuta com o cinegrafista.
. A composição do quadro é decisão do cinegrafista, a menos que o texto da passagem exija que alguma coisa ali deve ser destacada. Discuta com o ele a melhor forma de enquadrar e se há necessidade de movimento.
. Evite aquelas famosas caminhadinhas do nada para lugar algum. Se não há algo significativo para mostrar no local da passagem, fique parado e se concentre na qualidade da informação.
. Não há porque se virar para apontar o que está aparecendo bem atrás de você
3) GRAVANDO!
. Antes de gravar verifique bem sua aparência e confira com o cinegrafista.
. Seja sensato no figurino. Paletó e gravata ou vestidos com sapato de salto ficam ridículos no mato, numa plantação ou numa perseguição policial - além de atrapalhar. Mulheres devem ter cuidado com adereços vistosos demais.
. Respire bem fundo duas ou três vezes antes de gravar, inspirando pelo nariz e soltando o ar lentamente. Isso relaxa, oxigena o cérebro e dá fôlego.
. Umedeça a boca antes de gravar. Se possível, tome uns goles de água. Isso evita lábios secos, que prejudicam a dicção
. Procure gesticular com sutileza. Repórter de TV não pode ser nem poste nem bonecão de posto.
. Segure o microfone com leveza, sem ficar com a mão contraída
. Está errando demais? Pare, se acalme, respire fundo, peça um tempo à equipe, repasse ou mude o texto e retome o trabalho
. Em ambiente ruidoso, fale um pouco mais alto, mas não grite. O microfone tem capacidade de captar sua voz num tom adequado para a edição. Se o barulho for muito forte , o melhor é se afastar o suficiente sem perder o cenário escolhido
. Não tente ser o que não é. Se você é uma pessoa mais contida ou séria, não queira bancar o engraçadinho em passagens de matérias mais leves. Mas se tem personalidade mais descontraída, cuidado para não exagerar na performance.
. Grave duas ou três vezes no mínimo e sempre revise no ato. Confira texto, seu visual e outros detalhes que possam ter passado despercebidos durante a gravação.
. Não grave na hora do desfecho da matéria. TV é imagem e este momento é do cinegrafista. Repórter que decide fazer a passagem no momento em que um bandido vai se entregar ou na implosão de um prédio coloca em risco a principal imagem da matéria, pois ele pode errar o texto na hora e deixar o cinegrafista sem chance de garantir o flagrante.