top of page

ÂNCORAS X APRESENTADORES


A figura do âncora é um das marcas do telejornalismo norte-americano, que baliza boa parte do telejornais mundo afora, Brasil incluído.

O âncora é o profissional que não só lê as notícias no ar, mas com sua personalidade e experiência como jornalista acrescenta um fator tão sensível quando importante neste modelo: o comentário sobre as notícias que apresenta.

Em princípio, esta liberdade serve para ajudar o público a ter uma interpretação mais clara dos fatos.

Algumas destas intervenções são planejadas; outras surgem na hora, ao vivo, conforme a inspiração.

Nos EUA, os âncoras das grandes redes são super-celebridades altamente influentes na opinião pública e nos atos dos governantes.

Aqui no Brasil, o pioneiro desta casta é Boris Casoy, que no final dos anos 80 estreou o modelo à frente do TJ Brasil, na época o telejornal de horário nobre do SBT.

Ele inaugurou a era dos apresentadores com opinião, temperando as noticias com improvisos sarcásticos, cáusticos (é dele o bordão “Isto é uma vergonha!”) ou espirituosos. Casoy foi um divisor de águas no telejornalismo brasileiro.

Band, Record e outras emissoras seguiram o exemplo e o praticam até hoje, variando o grau conforme o vai e vem dos profissionais entre as emissoras, coisa típica do mercado brasileiro. O próprio Casoy deixou sua marca também nestas redes.

No entanto, é curioso que o telejornal campeão absoluto de audiência nacional há décadas ainda relute em dar asas aos seus apresentadores.

O Jornal Nacional, da Globo, tem à sua disposição tem uma estrutura anos- luz à frente da concorrência. Uma enorme equipe de altíssimo padrão com repórteres, apresentadores, produtores, editores e técnicos em todo o Brasil, correspondentes mundo afora, tecnologia de ponta e recursos para investir em coberturas em qualquer lugar. E ainda é dono isolado e inconteste da audiência de norte a sul. Ou seja, tem tudo para ser um telejornal com mais, digamos, personalidade.

A única concessão ao vôo livre dada aos apresentadores do JN são raros e pequenos lampejos de espontaneidade após matérias mais leves e os gracejos entre Willam Bonner e sua parceira Renata Vasconcelos na interação com os apresentadores da meteorologia. E esta “desenvoltura” é bastante recente. Desde sempre – e já se vão mais de 40 anos no ar – o JN foi um telejornal de performance contida, quando não sisuda na apresentação.

Entretanto, a Globo concede status de âncora aos apresentadores do Bom Dia Brasil e do Jornal da Globo. Nos dois programas eles tem espaço razoável para observações pessoais e até mesmo críticas contundentes. Já no Jornal Hoje, a leveza fica por conta apenas da boa química entre o casal de apresentadores, com uma performance simpática, alegre até, mas dentro dos limites semelhantes aos impostos ao JN.

Nas outras redes, o Jornal da Record mantém seus apresentadores num modelo próximo ao do JN, porém menos rígido. Já o SBT dá mais liberdade a Carlos Nascimento, do SBT Brasil.

Mas o principal âncora do Brasil hoje está na Band. Ricardo Boechat conduz o Jornal da Band com absoluta liberdade para tecer comentários sobre os fatos apresentados, sempre com uma boa dose de agudeza, abusando da experiência e credibilidade. Um âncora na essência.

Convém observar que esta análise não contempla os apresentadores dos programas de notícias mais populares, os chamados “policialescos”, como Brasil Urgente, Cidade Alerta e outros do gênero. São programas de outra categoria, embora jornalísticos. Nestes casos os apresentadores ( Carlos Datena, Marcelo Rezende e outros) tem liberdade praticamente irrestrita, pois o modelo exige que sejam mais personagens de entretenimento que propriamente âncoras. O que geralmente leva a atuações muitas vezes exageradas, quando não caricatas.


bottom of page