DISCUTINDO A RELAÇÃO: REPÓRTER X CINEGRAFISTA
Há um ditado implacável no telejornalismo:
Existe matéria sem repórter, mas não existe matéria sem cinegrafista.
Simples assim.
Cinegrafista, câmera ou repórter cinematográfico, é ele quem garante a essência da reportagem de TV.
Não adianta o repórter jornalista fazer beicinho.
É isso mesmo.
Sem imagem, não tem matéria.
(Obs: não vamos discutir aqui o modelo “abelha”, em que o próprio repórter grava tudo com mini-câmeras ou smartphones. Isso é outra história)
Vai longe o tempo em que os cinegrafistas eram operadores de equipamento sem voz nem vez. A visão deles é fundamental para o desenvolvimento da reportagem. E isso não se limita ás imagens.
Se o repórter e seu parceiro das imagens não estiverem bem afinados, fica muito mais complicado produzir uma reportagem bem acabada.
O olhar do câmera deve completar o do repórter e vice- versa.
Só repórteres medíocres vêem o cinegrafista como um simples operador a seu serviço.
Vale ainda observar que hoje é cada vez mais comum ver cinegrafistas formados em jornalismo.
Repórter e câmera não precisam ser amigos íntimos. Mas uma relação de respeito e companheirismo faz toda diferença na produtividade da equipe.
ENTROSAMENTO É TUDO!
Confira dicas pra manter uma harmoniosa e produtiva relação em equipe:
- Nunca desprezar a vivência, a cultura e o feeling do cinegrafista.
- Pedir sempre a opinião dele sobre tudo que envolva a matéria, inclusive sobre idéias de texto e de passagem. Esta conversa deve começar na hora em que a pauta é definida e ser estimulada permanentemente.
- Chegando ao local da pauta, os dois devem avaliar juntos o ambiente e definir como agir.
- Nunca tentar dirigir o cinegrafista, impondo enquadramentos, movimentos, pedindo zoom, etc. Nada irrita mais um câmera (especialmente os mais veteranos) do que um repórter metido a diretor de imagens.
- O repórter só deve pedir imagens muito específicas, que sejam fundamentais para sustentar uma determinada idéia do texto, ilustrar uma metáfora, etc.
- O repórter pode e deve avisar o cinegrafista sobre algo que este não tenha percebido. Isso é comum em ambientes tumultuados, em que quatro olhos funcionam melhor que dois para avaliar tudo que está acontecendo ao redor.
- O repórter deve estar sempre disposto a auxiliar o cinegrafista. Segurá-lo quando precisa se equilibrar em certas tomadas, controlar os chatos que podem se atravessar na imagem, ajudar a levar os equipamentos em situações difíceis, como escadas verticais, túneis estreitos, longas caminhadas, etc.
- O modelo de equipe mais comum hoje é da dupla repórter e cinegrafista, onde este geralmente carrega câmera e tripé. Se ele precisar levar mais equipamentos não será nenhuma vergonha para o repórter carregar o tripé ou luminária para ajudar o colega.
Nada mais detestável do que ver um repórter caminhando cheio de pose e o seu colega vindo atrás sobrecarregado como uma mula de mascate.
- Assim como acontece com os repórteres, há diferenças de perfil entre os cinegrafistas. Existem aspectos subjetivos, como personalidade, e objetivos, como a aptidão especial para certos tipos de matéria.
Por exemplo, há os que ficam totalmente à vontade em coberturas perigosas, e outros que nestas horas ficam retraídos e menos produtivos.
Também há os que trabalham melhor a fotografia e detalhes dos equipamentos, e aqueles que, embora competentes, são menos meticulosos.
- É importante, quando possível, levar em consideração o perfil do câmera na hora de montar a equipe para determinados tipos de matéria.
- Repórter tem que cuidar de sua aparência, mas na hora de gravar a passagem, o cinegrafista também deve zelar pela imagem do colega, observando detalhes como gravata torta, colarinho de fora, cabelo desalinhado, etc. Com mulheres, deve avaliar se determin
ados adereços como brincos ou colares são chamativos demais, etc. E não ter constrangimento em dar sua opinião.
- No momento culminante de uma matéria, a hora da imagem mais importante ou do flagrante, o repórter não deve querer ser maior que o fato e exigir fazer a passagem naquele momento.
- Assimilar a experiência dos cinegrafistas mais veteranos é muito importante para a formação do repórter. As vivências relatadas por eles sempre serão úteis.
- Se o câmera for inexperiente, o repórter deverá ajudá-lo a se orientar sobre os métodos de abordagem, as atitudes exigidas em cada situação, etc. Sempre com disposição e respeito. Os dois ganham muito com isso.