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SABER PERGUNTAR, EIS A QUESTÃO!


Lembra de um personagem de humor da Globo que respondia perguntas imbecis de forma debochada e agressiva?

O ator Franciso Milani encarnava um sujeito totalmente sem paciência que arrasava o perguntador e depois dizia: “Pergunta idiota, tolerância zero!”

Já pensou se todo entrevistado fosse assim? Ia ter muito repórter magoado...

Dá para dizer que a pergunta é a essência da reportagem, não é?

Questionar e a partir daí esclarecer é a própria razão de ser do jornalismo.

O resultado que se espera de uma indagação é diretamente proporcional à capacidade de formular bem uma pergunta. E isso sem dúvida define a capacidade profissional de um jornalista.

O personagem do Milani tinha toda razão. A coisa é muito simples e não tem porque complicar. É saber o que precisa de resposta e formular com clareza e precisão.

Mas lembre-se: a pergunta é ponto de partida, mas não é a entrevista gravada que resumirá a matéria.

Numa reportagem de TV, onde objetividade e clareza é tudo, o texto em off (apoiado pelas imagens) é que explica o que deve ser explicado. Para escrever de forma concisa e esclarecedora, é preciso escolher as palavras certas e construir as frases com a métrica necessária para o encaixe perfeito dentro do exíguo tempo de uma matéria de TV. Vale o mesmo para entradas ao vivo.

Os demais elementos de uma reportagem de TV também tem função bem definida: a passagem do repórter entra como ligação entre as informações mais relevantes. E as entrevistas (ou sonoras) tem o papel de legitimar o que está sendo dito, da forma mais consistente possível.

Por fim, a edição costura tudo isso como uma partitura que acomoda cada acorde no seu lugar. E a harmonia geral da composição depende de uma nota inicial bem afinada: a pergunta.

Normalmente ela deve ser objetiva, seca até. Mas quando a situação exige é preciso ter sensibilidade para rever a estratégia e reformular a abordagem para chegar ao melhor resultado. Sempre focando na objetividade.

Alguns repórteres podem ser definidos pelas perguntas que fazem:

O (IN)SENSÍVEL

Um clássico. É o repórter que aplica o incrível “Como você está se sentindo?” para alguém que perdeu um familiar, foi ferido, assaltado, enganado, traído, etc. Ou então lasca um “Está feliz?” para alguém que reencontra um filho desaparecido, ganha um prêmio, conquista um bom emprego , casa com a pessoa amada, etc.

O ORADOR

Faz perguntas quilométricas, repetindo de formas variadas e de uma vez a mesma pergunta ou – pior ainda - mistura questionamentos diversos, tudo na mesma intervenção (menos mal que o editor pode limar a pergunta-tese).

Em entrevistas ao vivo o repórter orador desperdiça tempo valioso, deixando o entrevistado com pouco espaço para esclarecer o que é necessário. Também reduz a chance de insistir numa resposta mais clara.

O PRESTATIVO:

É aquele que responde pelo entrevistado, descrevendo praticamente todo o fato na pergunta e depois lança um “É isso mesmo, fulano?”. Ou seja, ele não pede uma resposta, solicita uma gentil confirmação. Faz isso para puxar o saco do entrevistado ou porque não sabe mesmo o que perguntar. Esta prática é comum em links ao vivo e é um cacoete típico de apresentadores.

O VOADOR

Não sabe como explorar o assunto de forma mais inteligente e lança aquele indefectível “Como o senhor está vendo...” ou então “Qual é a sua avaliação?”

O DELEGADO

Entrevista criminosos ou suspeitos interrogando como se fosse policial, muitas vezes perguntando de forma acusatória com base em suas suposições e chavões do mundo do crime.

O ÓBVIO

Acredite, ele existe. Aquele que chega ao local do acidente , vê um carro espatifado num muro e pergunta ao policial: “Bateu no muro então?”. Ou naquela liquidação concorrida pergunta aos clientes: “Veio comprar mais barato?”. E tem ainda o que massacra os coitados na fila do SINE: “Tá difícil encontrar emprego?”.

Pois é...

Lembrei de outro personagem de humorístico da TV que fazia perguntas cretinas e depois justificava: “Perguntar não ofende!”

Perguntas boçais ofendem sim. Ofendem o jornalismo, o entrevistado e o público.


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