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E A NOJENTA ENGANOU TODA A EQUIPE!

Foi lá por 92. Estávamos gravando um Projeto Ecologia, programa semanal de reportagens especiais da RBSTV com matérias focadas no meio ambiente.

A pauta era a Estação Ecológica do Taim, enorme e importantíssima área de proteção federal que fica entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, no sul do estado.

Tinha sido um dia pesadíssimo de trabalho, atravessando a pé banhados, campos, mato e areais.

A equipe estava extenuada. Ao anoitecer, na estrada rumo ao hotel em Rio Grande, ecoava um coro uníssono dentro da camionete D-20:

- Uma cerveja beeem gelada, pelo amor de Deus, é só o que a gente precisa agora!

O coral sedento era formado por mim, na reportagem, a produtora e diretora do programa Mônica Roemmler, o repórter cinematográfico Gilmar Tedesco (o “60”), o então (hoje é câmera) operador de VT Enio “Maguila“ Rosa, e o Tudão, motorista figuraça que mesmo no rincão mais inóspito sempre descobria onde tinha diversão.

E foi ele quem prometeu salvar a equipe naquela noite.

- Xacomigo que eu vou arranjar um lugar pra gente tomar umas bem geladas!

A promessa soou como música. Mas logo nos demos conta que era muito tarde e que provavelmente tudo estaria fechado em Rio Grande na hora em que chegássemos.

Com aquele sorriso ladino de palito no canto da boca, Tudão profetizou:

- A gente sempre acha um lugarzinho...

No Taim: Azeredo, Maguila, Mônica e 60. Tudão fez a foto.

Entramos em Rio Grande altas horas. Tudo fechado. Uma visão desanimadora.

No volante, Tudão, inabalável, parecia saber exatamente onde estava nos levando.

Entramos numa área suspeitíssima, perto do porto. E logo estávamos estacionados em frente a um boteco apertado, um autêntico “pé sujo” com uns tipos muito estranhos nas mesas.

- Eu não disse que a gente achava um lugarzinho?

Tudão foi o primeiro a desembarcar, como se fosse o guia da turma.

- Vamo lá pessoal, que a sede tá grande!

Olhei para aquele ambiente um tanto escuro, com meia dúzia de vultos esquisitos.

Nas mesas, garrafas de cerveja. A profecia se cumpria.

Perguntamos à Mônica se ela se sentiria à vontade ali naquele lugar. Desconfiada mas decidida, ela topou, movida pela sede e pela confiança de estar ali com outros quatro amigos.

Achamos uma mesinha num canto. O ar estava impregnado com a fumaça de cigarros ordinários.

Do fundo do boteco, vinha uma massacrante música sertaneja disparada por uma daquelas máquinas em que a gente enfia uma fichinha pra tocar a música escolhida na lista.

Veio o dono do boteco, um tipo mulambento e soturno.

- O que vão querer?

- Cerveja beeeeem gelada, cinco copos. Tá bem gelada mesmo?

- Tá.

Neste momento, como se fosse ensaiado, toda equipe falou:

- Só não traz Malt 90!

O sujeito apenas grunhiu e se foi.

A Malt 90 era uma cerveja que a Brahma lançou na época, do tipo “popular”. Era tão ruim e aguada que ganhou o apelido de Malt Nojenta.

Decretamos: podia baixar qualquer cerveja naquela mesa, menos a Nojenta. Não merecíamos terminar um dia de tanta ralação bebendo aquilo.

O ogro do boteco voltou com uma garrafa completamente branca de gelo por fora. A legítima canela de pedreiro. Chegava a sair aquela “fumacinha” de tão gelada.

Era a visão do paraíso!

E veio mais uma, mais uma e mais uma. Todas com aquele lindo véu cobrindo toda a garrafa.

Quando sentimos que a sede mortal tinha sido vencida, chamamos a saideira.

A última garrafa pousou no meio da mesa. Mas desta vez, o gelo meio derretido revelou o rótulo.

Era uma... Malt 90! Uma não - todas que tomamos eram a Nojenta!

O calejado Tudão deu uma gargalhada e não perdeu a deixa:

- Pra mim tavam bem boas! E acho que pra vocês também!

Ninguém reclamou. E fomos para o hotel bem faceiros.


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