O GLOBO REPÓRTER MAIS REPÓRTER DOS ÚLTIMOS TEMPOS
O Globo Repórter desta última sexta-feira (18/08/2017) trouxe a oportunidade de se discutir um tema controverso no telejornalismo: a participação do repórter na condução da história.
Televisão é o território da vaidade, mesmo no jornalismo. O senso comum do telespectador (que é levado em consideração pelos gestores de comunicação) tende a elevar os repórteres, especialmente os de maior destaque, à condição de “estrelas” da TV.
Esta visão estabelece parâmetros bastante subjetivos para determinar a dose das aparições dos repórteres nas matérias.
O nível de exposição do repórter dentro de uma reportagem sempre gerou debates sobre os limites entre o personalismo de quem conta a história e a própria história.
O modelo tradicional dita que o repórter de TV deve aparecer de forma parcimoniosa, utilizando as passagens como elemento de ligação entre os textos em off, que concentram o grosso das informações.
O Globo Repórter, programa que há décadas é referência absoluta em reportagens especiais, sempre destacou a atuação dos repórteres, mas nunca deixando de observar os limites impostos pelo padrão básico.
Desta vez foi diferente.
Quem assistiu ao programa sobre a Eslováquia notou de cara que o repórter Ricardo Von Dorff (o nosso Barão, que começou na RBSTV de Porto Alegre nos final dos anos 80) assumiu desde o primeiro minuto de exibição a condução da narrativa, marcando cada assunto com uma sucessão incomum de passagens in loco.
Os longos trechos em off, característica do programa e de todos os demais do gênero, foram substituídos pela presença constante do repórter, a todo momento. Esta fórmula inusitada provocou uma inversão do padrão: desta vez, os offs é que funcionaram como ligação entre as passagens, e não o contrário.
O resultado poderia ter sido jornalisticamente catastrófico se as intervenções fossem no estilo deslumbramento, tão comum entre repórteres que acabaram se tornando mais celebridades extasiadas diante da pauta do que jornalistas de tv.
Mas a fórmula ousada funcionou, e muito bem!
Totalmente à vontade na narrativa, com passagens movimentadas, observações consistentes, descrições adequadas do que via e senso de humor na medida, Von Dorff levou o telespectador de mãos dadas por todos os cenários da reportagem de forma cativante, leveza e muita informação, sem resvalar no modelito “engraçadinho”.
E olha que fazer uma passagem atrás da outra sem ser repetitivo no vocabulário e na forma de abordagem é um desafio e tanto num programa de 50 minutos!
Outro detalhe interessante: apesar da onipresença do repórter em passagens sucessivas, as imagens não ficaram em segundo plano. O repórter cinematográfico Jean Carlo pode usar e abusar dos cenários deslumbrantes, usando até drone para realizar tomadas grandiosas.
Tudo funcionou tão bem graças a um roteiro ágil, com timing perfeito. Embora constantes, as passagens tinham o tempo certo e os offs traziam informação consistente e objetiva, sem repetir o que as imagens mostravam. As entrevistas bem pontuadas mantiveram o ritmo.
Esta edição do Globo repórter mostrou que é perfeitamente plausível fazer um programa basicamente estruturado em passagens do repórter, desde que esse seja um verdadeiro contador de histórias, com boa presença de vídeo, expressividade consistente e bom senso na atuação. Tudo isso com roteiro e equipe afinados, não tem como não dar certo.
Em tempo: foi a primeira reportagem produzida pela NSC TV, que assumiu o lugar da RBSTV em Santa Catarina. Uma bela estréia.
Para assistir ao programa: https://globoplay.globo.com/v/6089445/programa/