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OS JORNALISTAS E A EXPOSIÇÃO MALDITA

O caso da exposição QueerMuseu, cancelada pela direção do Santander Cultural, importante espaço das artes em Porto Alegre, é uma ótima oportunidade para refletir sobre o conhecimento que nós jornalistas precisamos ter neste campo.

Mais do que discutir o preconceito ou exageros nas obras que exploram conceitos do universo LGBT, o importante para nós jornalistas é aproveitar o gancho para refletir sobre nossa capacidade de tratar de arte com o equilíbrio que nosso trabalho exige.

Uma boa base cultural, coisa imprescindível para qualquer jornalista que preze a profissão, inclui noções concretas sobre artes plásticas, cênicas, música, literatura, etc.

A essência do jornalismo é humanista. A arte é uma manifestação atávica que traduz o olhar da humanidade sobre sua evolução desde os primeiros rabiscos nas cavernas.

Logo, ter um conhecimento pelo menos razoável da história das artes desde a antiguidade até a era contemporânea é fundamental.

Todo jornalista tem que conhecer as obras icônicas que através dos tempos definiram conceitos e eternizaram seus autores e sua influência nas gerações de artistas que se sucederam.

Mas atenção: não basta identificar o sorriso blazé da Gioconda como obra de Da Vinci nem reconhecer os relógios derretidos do Dali e achar que sabe tudo.

É preciso ir muito além dos clichês e desenvolver uma cultura artística sólida.

A menos que queira se especializar no assunto, o jornalista não precisa ser um super intelectual ou crítico de arte. Nada disso.

Basta ser bem informado e desenvolver cultura suficiente para ter senso crítico capaz de torná-lo imune às discussões estéreis e beligerantes nestes tempos de informações rasas turbinadas pela web.

Lembre-se que o conhecimento das artes não serve apenas para desviar da ladainha raivosa dos tribunais inquisitórios das redes sociais, como no caso do Santander.

Uma cultura consistente neste campo sempre será útil no desenvolvimento do seu trabalho, tanto para reconhecer obras, autores , suas épocas e significados, como também para usar os elementos artísticos como referências na elaboração dos conteúdos com que você lida no dia a dia.

Tudo isso fará muita diferença entre a qualidade do seu trabalho e a planície onde estão os medíocres.

Não espere a próxima polêmica para se dar conta que está boiando no assunto.

Valorize sua construção como ser humano e profissional, e sempre que der, vá a museus, galerias, assista a consertos de música clássica, tenha o hábito de ir ao teatro. Cultue a boa literatura, explorando os clássicos e os contemporâneos. Curta o cinemão blockbuster sem culpa, mas não esqueça dos filmes de verdade, inclusive os antigos.

Você não precisa gostar do Abaporú (eu também acho horrível), mas tem que saber que a obra é da Tarsila do Amaral e da importância que ambos tem. Não pode confundir Portinari com Di Cavalcanti nem achar que Warhol só fazia colagens multicoloridas porque era pop e incapaz de criar pinturas resplandecentes como os renascentistas.

Ok, também acho complicado admirar as riscalhadas delirantes do Pollock, mas você tem que saber que aquilo ali é Pollock, ou pelo menos tem tudo para ser. Vale o mesmo para Picasso, Miró, Bosch, Kandinski, Lautrec, Goya, Van Gogh e outros tantos, impressionistas, expressionistas, etc. É importante reconhecer o estilo, o traço, a estética dos autores mais célebres e representativos de suas épocas.

E não precisa ser rato de galeria para ter esta capacidade.

Não se trata de gostar ou não. A questão é entender o contexto das obras e sua relevância, já que o significado é algo pra lá de subjetivo s sempre sujeito às mais variadas interpretações.

Uma boa dica é comprar um desses guias de arte, edições ilustradas que reúnem as obras e autores mais significativos. Qualquer boa livraria tem.


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